quinta-feira, 11 de junho de 2009

...

Estava um daqueles dias em que o frio parecia cortar a carne como se fosse navalhas, por todo o lado as ervas eram brancas, pareciam pedaços de vidro colorido a enfeitar a estrada. Os pés pisavam lama e de quando a quando lá se enganavam e iam encharcando as botas que corriam a passos largos e assustados.
O medo estava sempre presente nestas caminhadas diárias, os acontecimentos eram sempre os mesmos, levantar, vestir e lavar a cara, comer e depois o que ocorria durante minutos pareciam horas de agonia, claro que me estou a referir ao pentear. O cabelo era repuxado para trás eram feitos variados penteados, dependia do dia, mas naquele dia tinha saído o famoso rabo-de-cavalo.
A escola ficava longe e o caminho até lá era recheado de grandes perigos e lamurias, sofrimentos de uma criança magra, tão magra que quando a mãe a levava ao médico este pensava que ela tinha algum problema. Pobre criança eram-lhe receitados variadíssimos medicamentos afim de acabar com a doença da "criatura".
O caminho agora era um vasto campo aberto, cheio de cores e cheiros, tinha de ser percorrido de ponta a ponta, até chegar à zona mais movimentada da aldeia, a estrada nacional (que já era de alcatrão). Pobre estrada, passavam mais vezes as famosas botas com a sua sola de couro, do que as solas de borracha dos carros.
Na escola as horas eram terrores, o medo era uma constante.
Como todas as crianças o momento do dia mais desejado, para além da saída era o recreio.
Chegou a hora do almoço, que lamuria, que pesadelo...

Sem comentários:

Enviar um comentário